Missas sob ameaça no Brasil

Tribunal. Foto O Globo. Disposiçao

No dia 20 de março de 2020, o Presidente da República Federativa do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, no uso de suas atribuições constitucionais e legais, publicou o Decreto nº 10.282 a fim de definir os serviços públicos e as atividades essenciais a serem preservadas durante a crise do vírus chinês, nelas incluindo, no inciso XXXIX do parágrafo 1º ao artigo 3º, «atividades religiosas de qualquer natureza, obedecidas as determinações do Ministério da Saúde».

Ignorando o Decreto Federal, o Governador do Estado de São Paulo, João Agripino Dória Junior, no dia 11 de março de 2021, publicou o Decreto Estadual nº 65.563, por meio do qual, em seu artigo 2º, inciso II, alínea a, vedou, em caráter temporário e excepcional durante a pandemia de covid-19, «cultos, missas e demais atividades religiosas de caráter coletivo». Tudo com o motivo de evitar a disseminação do vírus.

Impõe ressaltar que no dia 12 de março de 2021, um dia após o famigerado Decreto Estadual, a Assembleia do Estado promulgou a Lei 17.346, que instituiu a «liberdade religiosa» no Estado de São Paulo, protegendo, assim, o direito na constitução atual de 1988, à «liberdade religiosa» a toda população do Estado, nela compreendendo, nos termos da citada lei, «as liberdades de consciência, pensamento, discurso, culto, pregação e organização religiosa, tanto na esfera pública quanto na esfera privada, constituindo-se como direito fundamental a uma identidade religiosa e pessoal de todos os cidadãos, conforme a Constituição Federal, a Declaração Universal dos Direitos Humanos e o Direito Internacional aplicável».

A constitucionalidade do referido decreto foi questionada pelo PSD (Partido Social Democrático), por meio de uma ação interposta diretamente junto ao Supremo Tribunal Federal (ADPF 811), cujo relator foi o Ministro Gilmar Mendes, a qual foi julgada no último dia 8 de abril, tendo o Tribunal, por maioria de 9×2, a julgado improcedente.

Convém lembrar que no dia 22 de junho de 2020, a Associação Nacional dos Juristas Evangélicos (Anajure) havia ajuizado a ADPF 701 e no dia 3 de abril, o Ministro Relator Kassio Nunes, admitiu o ingresso do Centro Brasileiro de Estudos em Direito e Religiâo – CEDIRE na condição de amicus curiae, e concedeu a medida cautelar pleiteada, ad referendum do Plenário, «para o fim de determinar que: a) os Estados, Distrito Federal e Municípios se abstenham de editar ou de exigir o cumprimento de decretos ou atos administrativos locais que proíbam completamente a realização de celebrações religiosas presenciais, por motivos ligados à prevenção da Covid19; e b) sejam aplicados, nos cultos, missas e reuniões de quaisquer credos e religiões, os protocolos sanitários de prevenção, relativos à limitação de presença (no máximo, 25% da capacidade), além das medidas acima mencionadas, tais como: distanciamento social (com ocupação de forma espaçada entre os assentos e modo alternado entre as fileiras de cadeiras ou bancos), observância de que o espaço seja arejado (com janelas e portas abertas, sempre que possível), obrigatoriedade quanto ao uso de máscaras, disponibilização de álcool em gel nas entradas dos templos, aferição de temperatura, fixadas estas como balizas mínimas, recomendando-se também outras medidas profiláticas editadas pelo Ministério da Saúde».

Referida liminar parece estar ainda em vigor para o Distrito Federal e demais Estados a exceção do Estado de São Paulo em razão da ADPF 811 já mencionada.

Disso decorre que o Pleno do Supremo Tribunal Federal, em conformidade com outras decisões exaradas pela Corte no transcorrer da pandemia, entendeu que os Estados e Municípios podem, por meio de legislação própria, contrariar as previsões da lei federal. E isso não somente no tocante à liberdade de culto, mas também quanto a outros direitos e liberdades até então tidos por fundamentais e salvaguardados pela Constituição (liberdade de exercício de profissão, de ir e vir, etc).

Convém anotar que o texto constitucional apenas prevê a restrição de direitos fundamentais por ato do Presidente da República em casos determinados e, mesmo assim, com aprovação, prévia ou posterior, do Poder Legislativo e com observâncias de diversas outras condições. A impossibilidade de governadores e prefeitos restringirem tais direitos por meio de simples decretos afronta de tal forma o texto constitucional que sequer era tido como possível até há alguns meses.

Assim, na prática, houve um esvaziamento da competência do Executivo Federal e até mesmo, segundo alguns juristas, a suspensão da ordem constitucional já que direitos e garantias podem ser suprimidos por ato do poder executivo dos Estados e dos Municípios.

Por fim, há ainda que se destacar, em relação à restrição de missas, que as autoridades da Igreja Católica, em geral, expressam acordo com as restrições. As manifestações dos bispos indicam frequentemente preocupação preferencial pela saúde material dos católicos.

Raquel Machado Carleial de Andrade, Brasil

La Misa, bajo amenaza en Brasil

El 20 de marzo de 2020, el Presidente de la República Federativa del Brasil, Jair Messias Bolsonaro, en el uso de sus funciones constitucionales y jurídicas, publicó el Decreto Nº 10.282 con el fin de definir los servicios públicos y las actividades esenciales que deben prestarse durante la crisis del coronavirus. En el apartado XXXIX del párrafo 1 del artículo 3, se incluyeron «las actividades religiosas de cualquier naturaleza, obedeciendo las disposiciones del Ministerio de Salud».  

No obstante, ignorando el Decreto Federal, el Gobernador del estado de São Paulo, João Agripino Dória Junior, 1, publicó el Decreto del estado federado Nº 65.563el 11 de marzo de 202. Mediante este texto, en el artículo 2, punto II, letra a), prohíbe de manera temporal y excepcional durante la pandemia de covid-19, «cultos, masas y otras actividades religiosas de carácter colectivo». Esta norma se basa en el pretexto de impedir la propagación del virus.

Cabe señalar que el 12 de marzo de 2021, un día después del infame Decreto del estado federado de São Paulo, la Asamblea Estatal promulgó la Ley 17.346, que instituyó la llamada «libertad religiosa» en dicho estado, concretando así el derecho que declara la constitución actual, de 1988, a la «libertad religiosa» a toda la población del Estado. Aquél decreto, comprende de conformidad con la ley antes mencionada «las libertades de conciencia, pensamiento, discurso, culto, predicación y organización religiosa, tanto en la esfera pública como en el ámbito privado, constituyendo un derecho fundamental a una identidad religiosa y personal de todos los ciudadanos, de acuerdo con la Constitución Federal, la Declaración Universal de Derechos Humanos y el derecho internacional aplicable».

La constitucionalidad de dicho decreto fue cuestionada por el PSD (Partido Socialdemócrata), a través de un recurso presentado directamente ante el Tribunal Supremo (ADPF 811), cuyo ponente fue el magistrado Gilmar Mendes. El recurso se resolvió el pasado 8 de abril. El Tribunal Supremo lo declaró improcedente por mayoría de 9 votos frente a 2.

Cabe recordar que, el 22 de junio de 2020, la Asociación Nacional de Juristas Evangélicos (Anajure) presentó la ADPF 701 y el 3 de abril. El magistrado ponente Kassio Nunes, admitió la entrada del Centro Brasileño de estudios de Derecho y Religión- CEDIRE en condición de amicus curiae, y concedió la medida cautelar, ad referéndum del  Pleno del Tribunal, «con el fin de determinar que: a) los estados, Distrito Federal y municipios se abstengan de exigir el cumplimiento de decretos o actos administrativos locales que prohíben por completo el desarrollo de celebraciones religiosas cara a cara, por razones relacionadas con la prevención de Covid19; y b) que los protocolos de prevención de la salud relativos a la limitación de la presencia (máximo el 25% de la capacidad) se aplicarán en los servicios, Misas y reuniones de cualquier credo y religión, además de las medidas mencionadas anteriormente, tales como: distanciamiento social (con ocupación de forma espaciada entre los asientos y alternativamente entre las filas de sillas o bancos), ventilación de locales (con ventanas y puertas abiertas, siempre que sea posible), uso obligatorio de máscaras, disponibilidad de alcohol en gel en las entradas de los templos, medición de temperatura, fija como balizas mínimas, recomendando también otras medidas profilácticas editadas por el Ministerio de Salud».

Esta medida cautelar parece seguir vigente para el Distrito Federal y otros estados, excepto en el caso del estado de São Paulo debido a la ADPF 811 ya mencionada.

De ello se deduce que el Pleno del Tribunal Supremo Federal, de conformidad con otras decisiones adoptadas en el curso de la pandemia, entendió que los estados y municipios pueden, a través de su propia legislación, contradecir las disposiciones del derecho federal. Y esto no sólo con respecto a la asistencia a los templos, sino también con respecto a otros derechos y libertades hasta ahora en manos fundamentales y salvaguardadas por la Constitución (libertad para ejercer la profesión, para ir y venir, etc.).

Cabe señalar que el texto constitucional sólo prevé la restricción de derechos fundamentales por acto del presidente de la República en determinados casos y, aun así, con la aprobación, antes o después, del Poder Legislativo y con el respeto de otras condiciones. La imposibilidad de que gobernadores y alcaldes restrinjan esos derechos a través de simples decretos contradice el texto constitucional, y es algo que ni siquiera se consideraba posible hasta hace unos meses.

Por lo tanto, en la práctica, ha habido un vaciamiento de la competencia del Ejecutivo Federal e incluso, según algunos juristas, la suspensión del orden constitucional ya que los derechos y garantías pueden ser suprimidos por actos del poder ejecutivo de los estados y municipios.

Por último, también es importante, en relación con la restricción de las Misas, que las autoridades de la Iglesia católica, en general, expresan su acuerdo con las restricciones. Las manifestaciones de los obispos a menudo indican una preocupación preferencial por la salud material de los católicos.

Raquel Machado Carleial de Andrade, Brasil